
Quando eu me casei, descobri que tudo o que me disseram sobre uniões estava errado.
Primeiro engano: casamento não é consequência de um amor romântico. Embora tenha lá sua contribuição no começo da história, o sentimento explosivo dos livros e das novelas vira é paixonite, caso, namoro. Mas o que leva mesmo alguém a dividir a vida com outro alguém tem mais a ver com outro tipo de amor – o amor profundo e inesgotável da amizade.
Sabe quando a gente era criança e não conseguia se desgrudar da melhor amiga? Aquela pessoa pra quem se podia contar qualquer coisa e fazer todos os planos mais improváveis? A companhia não enjoava, assunto não faltava, não havia vergonhas. Tdo era tão simples... Então, esse é o meu marido. Não é o meu p´ríncipe. É o meu melhor amigo no mundo. E foi porque tudo é possível e melhor quando estamos juntos, que eu lhe disse sim.
Casamento, eu também descobri, não tem a ver com encontrar o par perfeito, que se encaixa sem arestas. Na minha história, é sobre respeitar alguém diferente, o que exige negociações diárias e infinitas. Desde chegarmos ao consenso de onde vai ficar a estante nova, até decidirmos quando virão os filhos, raramente concordamos de primeira. E o mais bonito não é pensar tudo igual, na linha oh-fomos-feitos-um-para-o-outro!, mas nos descobrirmos capazes de aprender juntos e de cultivar a generosidade de ouvir, entender, ceder, somar.
Casamento, eu sei agora, não tem a ver com paixão. Ou, pelo menos, não com o tipo que nos vendem, dessas cegas, que se põe acima de tudo. Na real, é o contrário. Casamento – o meu, ao menos – vive é da admiração da verdade do outro. Enxergá-lo como é, e não como a gente desejaria que fosse. Sem filtros nem disfarces, sob a luz da intimidade e da rotina. Com todos os humores que oscilam, as falhas que temos, os nossos desacordos. E é exatamente por conhecê-lo tão bem, que posso admirá-lo por inteiro, e me encantar a cada descoberta.
Num casamento, fui ver, as grandes declarações não vêm de helicópteros jogando rosas no telhado. Embora o pedido tenha sido de filme, no dia a dia, assim como as melhores coisas da vida, o amor me surpreende nos momentos mais simples. Como ouvir uma cantada dele quando estou com a cara amassada de sono ou vê-lo fazendo piadas quando estou de mau humor. Me derreto com um "Tava morrendo de saudade" depois de poucas horas longe e com a companhia silenciosa enquanto tenho de trabalhar. As gentilezas, assim, fazem todos os nossos dias especiais, não só os marcados no calendário.
Casamento, eu entendi, tampouco é garantia. Os vazios que eu tinha em mim continuam a existir. As incertezas do que fazer da vida ainda são as mesmas. Minhas contas a pagar, minha aflição de ter o coração partido, meu complexo com o corpo, minhas infelicidades particulares: quando a gente casa, não sara. Mas dividir tudo isso quando chego em casa me dá forças que não sabia ter, e uma razão maior para resolver tudo: quero ser feliz comigo para, assim, ser mais feliz com ele.
Por fim, eu aprendi que casamento não é para sempre. É para agora. Não se trata de uma promessa única, mas de um compromisso que se renova a cada manhã, a cada surpresa, a cada briga, a cada reencontro. A vida é cheia de encruzilhadas. E, a cada vez que encontramos uma, temos de decidir novamente se vamos continuar seguindo o mesmo caminho, lado a lado. Eu não me casei uma vez só. Eu me caso com o Artur todos os dias.
E é só assim, esquecendo as ideias prontas, que acredito que o romance permance, nos tornamos um par de verdade, a paixão supera a passagem do tempo e vamos passar o resto da vida juntos. Não é um conto de fadas. Mas é a maior história de amor que conheço, porque ela é real – porque ela é minha. E, quando a gente acha que o que temos é o melhor do mundo, aí, sim, é que se ouvem os fogos de artifício.
(...)
Espero que inspire você também a se apaixonar, seja pelo mesmo, seja pelo novo, e a viver cada encontro (e cada desencontro) como se fosse a primeira e a última vez.
Roberta Faria (Editora-Chefe da revista Sorria)
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